terça-feira, 18 de maio de 2010

Estudando o gênero crônica, nas aulas de Língua e Linguagem: Produção de textos.

Eis alguns de nossos cronistas do 1º de Letras ( 2010). Vale a pena degustar!

Profª Anicézia Romanhol Bette

Nasce Uma Estrela
(Fernando Hardman)

O pretendente a escritor sentou-se no quiosque do calçadão, junto ao posto seis, Ipanema. Estava em busca de inspiração para uma crônica, e pensou que aquele povo alegre da praia poderia ser fonte de argumento para os fatos do cotidiano.
A bicha recalcada, a modelo de topless, o pitboy raivoso e os vendedores ambulantes. O trânsito contra os edifícios de um lado, o mar aberto separado do céu apenas pelo horizonte, do outro lado. No meio, o comércio e a paquera, o teatro humano. Sacou, o pretendente a escritor, de seu bloco de papel e sua caneta, e respirou fundo, uma preparação para seu olhar agudo e reflexivo.

Mas tudo mostrou-se banal, trivial. O mundo pareceu-lhe monótono, inclusive o sonho do emprego no jornal. Resolveu pedir uma bebida e relaxar. Um chope, para deixar o pensamento leve? Uma água de coco, natural como o momento que pretendia captar? Optou pelo mate.

E sorveu o líquido como sorvia a própria melancolia. Que importava o bebê chorando, a mãe aflita, o flanelinha, o compromisso em cima da hora?

E o tempo foi passando... A tarde caindo...
O pôr-do-sol, enfim. Então deslumbrou-se o sonhador. A magistral saída de cena do astro-rei redimiu-o. E fez-se o poeta.



Aliança
(Dryelle Meira)


Luciana não conseguia acreditar no que seus olhos viam.
- E aí, Lu, o que você achou?
- Meu Deus! Gabriel, essa aliança é perfeita!
- Você gostou, mesmo?
- É claro, é a aliança mais linda que já vi na vida, você nem imagina o quanto estou feliz, era tudo o que eu queria.
- Faz alguns dias que a comprei, só me sentia um pouco inseguro, afinal, é um momento muito importante!
- Mas você não deveria se sentir assim, quando sabe que a mulher o ama...
- E eu também a amo.
Cada palavra que Gabriel dizia, fazia o coração de Luciana dar saltos, tantos anos esperando por aquele dia.
- Não sei o que te dizer.
- Sabia que você ficaria feliz, mas não imaginei que seria tanto assim.
- Como não ficaria? O dia está perfeito!
- Bem Lu, já vou indo.
- Vai aonde?
- Até a sua casa pedir a clara em casamento, espero que ela goste da aliança.
- O quê? A aliança é para ela? Clara..., a minha irmã?
- Claro, Lu, de quem você pensou que estávamos falando?


Excursão
(Polyanna de Paula Campos)


Ah! Passeio de férias chegando... Bom, na falta de carro o jeito é ir de excursão, mas a chateação já começa na compra das passagens, quando a esposa pergunta se tem quarto separado pra família e, a mocinha da excursão responde que só tem um, mas que não pode ser reservado com antecedência, somente no momento em que todos chegarem. Já imaginam a cena! A mãezona desce correndo do ônibus, pra garantir o quarto da superfamília e... tarde demais! Outra família chega primeiro. O jeito é dividir o quarto com outras pessoas. Mas tudo bem, afinal é preciso dividir o banheiro, também, na volta da praia. Aquela areia coletiva pelo chão molhado, que tristeza! E a chefe da excursão, gritando na hora do café da manhã: “Gente, o almoço é de 12:00 às 14:00hs, quem chegar depois, vai ficar sem almoço heim”!

Depois do “calmo” café da manhã, rumo à praia, a pé, né? Levando aquele monte de apetrechos que só serve pra irritar. Mal chego à praia e já está na hora de voltar com tudo aquilo que levei, pois o almoço começa 12: 00 h, lembra?
Depois do almoço, passeio pela cidade. As típicas “feirinhas de artesanato”. Chegando em casa, o banho das crianças no banheiro coletivo. Finalmente vou assistir um pouco de TV. O problema é que há somente uma TV, e já tem pessoas na sala assistindo àqueles canais de fofoca. Que tédio! Então vou pro quarto dormir. E quem disse que isso é possível? Os colegas de quarto mostrando presentinhos que compraram na feirinha, um ventiladorzinho girando e pernilongos perturbando.

Amanhã começa tudo de novo... Ano que vem eu compro um carro, de qualquer jeito!


Um Mineiro no Rio de Janeiro
(Diana Gonzaga)


Seu Antônio: mineiro do interior e vendedor plantas. Carregava-as em seu caminhãozinho e entregava por todo o país. Certa vez, no Rio de Janeiro, ao tentar estacionar naquelas ruas movimentadas, Seu Antônio subiu e quebrou um pedaço da calçada. Não demorou e logo apareceu um guarda:
_Me acompanhe, por favor, à delegacia!
Seu Antônio o acompanhou.
_Me mostre sua habilitação e o documento do veículo.
_Tenho não, sinhô!
_O senhor tá carregando o quê?
_Uns pé de laranja lima e limão galego.
_Tem nota fiscal?
_Também não, sinhô!
_É, meu amigo, a situação não é nada boa! _ falou o guarda _ mas se o senhor tiver um trocado, a gente vê o que faz.
_Tenho dez real só, serve?
_Só dez? Esvazie os bolsos! _ ordenou o guarda.
Para a infelicidade de Seu Antônio, que tinha uma nota de dez em um bolso e outra de cinquenta no outro, tirou a de cinquenta.
_Ah! O senhor quer me enganar!_ disse o guarda pegando a nota.
_ Enganei não, sinhô. Esse é o dinheiro da gasolina da volta, posso gastá não _ respondeu segurando também a nota, que acabou rasgando.
O guarda, com pena pela simplicidade de seu Antônio, deixou que seguisse viagem. Este, porém, antes de ir, com os dois pedaços da nota, voltou-se para o guarda e sorriu:
_ Ô Seu guarda, o sinhô num tem um “durex” pra me emprestá, não?

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